28 de junho de 2009

IGREJA PRESBITERIANA DE CANHOTINHO





HISTÓRIA

Em 1898 Dr. Butler e família mudaram-se de Garanhuns para Canhotinho. O evangelho já tinha sido levado para Canhotinho pelo presbítero Vera Cruz, embora a população local houvesse resolvido não permitir que a "nova seita" entrasse nos seus limites.
A chegada de Vera Cruz foi verdadeiramente dramática.

Certo dia, quando estava na sua plantação de café, Caetano Vidal ouviu um grande vozoeiro na estação ferroviária .
- Que é que está acontecendo na estação? Gritou ele a um dos criados.
- Chegou uma "nova seita" no trem de Garanhuns e o povo quer apedreja-lo.
- Neste caso, eu vou também jogar a minha pedra! Disse ele e montou a cavalo.
A toda brida e firme no seu propósito, foi ele na direção do barulho. Ao chegar lá, porém ficou profundamente surpreso com a atitude de Vera Cruz que, sentado e de Bíblia aberta nas mãos, esperava pacientemente a morte. Seu coração se encheu de piedade e mudou rapidamente de idéia: ao invés de apedrejar, defenderia. Tomando a frente da multidão, dirigiu-se ao estranho visitante.
- Ei, levante-se e venha comigo!
- O senhor representa as autoridades deste lugar? Perguntou o pregador.
- Não, eu não represento nada, mas é melhor vir.
Certo de que nada, exceto a violência, o aguardava, Vera Cruz se levantou e o seguiu.
Caetano, ainda que de origem humilde, pois fora um garoto que não recebera educação, que jamais tinha conhecido o cuidado de um pai, ou o carinho de uma mãe, era agora um homem de influencia em Canhotinho, um dos seus ricos plantadores de café e cana. Isto o ajudou naquele momento de decisão.
Enquanto os dois se apressavam em chegar à casa de Caetano, subindo a ladeira do Alto da Parasita, a multidão os seguia, pronta a entrar em ação. Quando alcançaram a residência, Caetano empurrou Vera Cruz portão adentro, postou-se de frente para a turba e gritou:
- Alto lá! Este homem agora é meu hóspede e eu vou defende-lo enquanto tiver forças. É melhor ninguém avançar. Atrás de mim estão meus cachorros e atrás dos cachorros minhas armas.
Quando a multidão se dispersou, já no interior da casa, Caetano perguntou-lhe o que tinha ido fazer ali. Vera Cruz respondeu:
- Eu vim pregar o evangelho de Jesus Cristo.
- Pois bem! Retrucou Caetano: Se foi isto que veio fazer, pode começar e não precisa se preocupar com o tempo.
A situação estava praticamente ganha. À noite Vera Cruz falou para a família toda.
Ao recolher-se ao quarto de hospedes, gastou ainda alguns minutos lendo a Bíblia em voz alta, no que foi ouvido pela esposa de Caetano. Para melhor escutá-lo ela se aproximou do quarto e disse depois ao esposo: "Isto parece ser coisa de Deus".
Naquela mesma casa ainda no ano de 1898, realizaram-se os primeiros cultos e daquela família saíram baluartes do trabalho iniciante. Quando o Dr. Butler foi para lá, um mês depois, encontrou já as portas abertas e um pequeno núcleo de crentes pronto a recebe-lo.
Canhotinho, que serviu de morada ao Dr. Butler, pelo resto da vida, é uma cidade do agreste pernambucano, situada a 210km do Recife, na direção sudoeste. Está a 467 m de acima do nível do mar, oferece graças à sua altitude, clima saudável e ameno, ainda que quente úmido, caracteriza-se por uma topografia acidentada, o que dá lugar a dois níveis na cidade: cidade alta e a baixa.
A região começara a ser povoada em 1812, Habitava, nesta época, dois irmãos, a margem do rio canhoto, que ate então não tinha nome. Um deles se estabeleceu no local onde ora se estende a conhecida rua da Estação, e o outro, mais acima, ao norte, no lugarejo chamado Canhoto, para as bandas do Lajeiro e da Serra dos bois. Sucede que este último ficou conhecido, por todos que o cercavam, pelo apelido de Canhoto, que mais tarde se transmitiu ao rio, como este fosse de propriedade do referido senhor que ocupava um ponto único em todo o seu curso. O primeiro, já mencionado, que era de estatura baixa foi apelidado de Canhotinho, para que fossem diferenciados. Canhotinho, extremamente devotado a São Sebastião, erigiu uma capela que serviu de atração para outras pessoas.
Daí por diante, as casas começaram a aparecer ao redor, e, com as casas, as ruas. Formara-se um pequeno povoado. Pouco a pouco o progresso se fez sentir. Em 1822, o lugar foi elevado à categoria de distrito, pertencendo ao Município de São Bento.
Em setembro de 1885, foi concluída a estação ferroviária, chegando também ali a primeira locomotiva. Em julho de 1890 o povoado foi elevado à categoria de vila e, em outubro, com a nova divisão geopolítica, passou a fazer parte do município a localidade de Lajedo. Canhotinho se nivelava agora a Calçado e a Glicério, partes da mesma unidade. O primeiro Conselho Municipal foi eleito a 23 de janeiro de 1893, cinco anos antes da chegada do Dr. Butler. Pouco depois, a 14 de maio de 1903, a vila adquiriu o nível de cidade, chamando-se São Sebastião.
Fixar residência, em Canhotinho não foi fácil. Ninguém queria vender ou alugar uma casa ao Dr. Butler. O mesmo lhe havia acontecido em Garanhuns. Depois de muita luta, conseguiu uma casa no Alto da Parasita, o Alto que haveria de testemunhar toda a sua ação cristã de médico-pregador. Ficava perto de onde morava Caetano Vidal.
Somente o desafio do lugar o levou a aceitar as condições dessa primeira casa onde morou. Na verdade, ela não oferecia as mínimas condições de moradia: era de taipa (sopapo, como diziam); o teto gotejava quando chovia; o assoalho era de terra batida, sujo e negro; a cozinha havia sido improvisada ao ar-livre, no quintal, à chuva e ao sol; a água potável era de má qualidade e quase não havia água para banho; tinha só três cômodos, que eram usados continuamente como sala de cultos, de recepção, quartos de dormir e hospital. A pequena entrada era iluminada por uma lâmpada a querosene e mobiliada com bancos que o Dr. Butler mesmo fez. O púlpito era uma mesa redonda, também usada como laboratório, durante o dia. E para completar o desconforto, o teto era freqüentemente visitado por pequenas cobras, que nele procuravam aninhar-se. Certa vez, quando Da. Rena ensinava às crianças, uma dessas cobras lhe caiu sobre a cabeça, causando-lhe terrível susto, e criando-lhe um medo de serpentes nunca mais vencido.
Assim o Dr. Butler estabeleceu-se em Canhotinho, como médico e pregador. Apesar da pobreza das instalações, foi fácil obter grande êxito no trabalho desde o inicio em virtude da carência da região.
A situação de moradia tomou depois outro aspecto, com a construção de novas casas. Em Canhotinho, começou edificando casas, atendendo às necessidades locais. Com as próprias mãos, ajudou nas construções.
Primeiro levantou uma casa de estilo simples na qual se destaca ainda hoje o sótão, seu quarto de oração. Depois, edificou outra casa ao lado, com melhores instalações, e aspecto mais agradável, onde a família passou a morar. Para atender às necessidades médicas, levantou mais uma casa onde fez funcionar a farmácia e o laboratório. Mais tarde, construiu um edifício para o hospital. Duas outras construções foram muito importantes para ele, porque preencheram as lacunas que ainda existiam: a escola e a Igreja. Elas completaram o seu trabalho, dando à ação cristã um caráter mais completo: religião, saúde e educação.
O ambiente da região de Canhotinho estava tornando mais alegre para os Butlers até que algo terrível aconteceu. No dia sete de fevereiro de 1898, triste noticia abalou os meios evangélicos pernambucanos.
O coronel Joaquim Vitalino havia convidado o Dr. Butler para fazer cultos na Baixa e em São Bento. O convite foi aceito com alegria, tanto por ele como pelo grupo de crentes que costumava acompanha-lo nessas viagens. Foram, então, montados a cavalo, para a vila de São Bento, onde, durante cerca de três dias, realizaram cultos especiais e conferências. Ao mesmo tempo, o Dr. Butler receitava o povo.
Na manhã do quarto dia, prepararam-se para voltar. Um dos companheiros, Manuel Corrêa Vilella, conhecido como Né Vilella, foi um dos últimos a montar bem ao lado do Dr. Butler. De repente, surgiu um homem cavalgando em disparada, dirigindo-se para os dois. "Alguma noticia de emergência!" pensaram. Na verdade, tratava-se de um carteiro, o conhecido Negro Velho, que se caracterizava pelo fanatismo anti-evangélico. Desta vez, porem a mensagem que deveria entregar era a morte, endereçada ao Dr. Butler, remetida pelo vigário local, o Pe. Joaquim Alfredo.
A cena foi rápida e inesperada. Negro Velho atacou primeiro o Dr. Butler a cacetadas. Avançando em sua direção, Né Vilella aparou a pancada e, descendo do animal, em gestos rápidos e fortes, tomou-lhe o cacete. Houve quem segurasse o cruel estafeta, mas ele conseguiu soltar-se e voltou a atacar com fúria ainda maior. O seu aspecto era verdadeiramente diabólico: os olhos esbugalhados, o rosto arroxeado pela cólera. Arremessou ema pedra no medico e de punhal na mão. Vilella rápido como uma serpente, tomou a dianteira e recebeu a punhalada, que o atingiu no peito esquerdo. Em menos de cinco minutos expirou.
Naquele exato momento, quando o assassino estava ainda mergulhado na indecisão de que não sabe se vai adiante no seu ato ou foge, Dr. Butler saltou do cavalo e ajoelho-se ao lado do amigo que rendia o espírito. Levantou-se em lagrimas e exclamou:
-Mata-me também! Satisfaze tua sede de sangue! Não sou melhor do que o irmão que tu mataste.
Mas Negro Velho fugiu. O Coronel Vitalino ainda o perseguiu, mas em vão.Recobrando o animo e o auto-controle o Dr. Butler pregou ali mesmo.
A morte de Né Vilella, porém resultou na conversão de muitas pessoas que, apartir daquela data, começaram a se interessar pelos ensinos da nova igreja. Poucos meses a 26 de julho o Dr. Butler batizou 34 pessoas em Catonho, no mesmo município de São Bento, e mais 16, daí a dias, em Vitória, no vizinho Estado de Alagoas.
A inauguração no dia 20 de junho de 1915, foi profundamente tocante. O Dr. Butler proferiu o sermão inaugural, entre lágrimas de grande emoção. Depois de relembrar os fatos relacionados com a morte de Né Vilella em seu lugar, concluiu lembrando que Jesus também morrera por ele. Após, convidou os companheiros de viagem, testemunhas dos acontecimentos, para depositarem a urna, com os ossos do mártir, sob o púlpito. Uma lapide de mármore traz os dizeres: "Em memória de Né Vilella, assassinado em São Bento por causa do Evangelho - 1898". (hoje os ossos de Né Vilella se encontram no mesmo tumulo onde estão os do Dr. Butler.).